MORREU O POETA HERBERTO HELDER
Dichter Herberto (84) is maandag overleden in zijn huis in Cascais. Hij werd beschouwd als de belangrijkste Portugese dichter van het tweede deel van de 20ste eeuw.
O poeta Herberto Helder morreu esta
segunda-feira, aos 84 anos, na sua casa em Cascais. Era considerado o maior
poeta português da segunda metade do século XX.
Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira werd geboren op 23
november 1930 in Funchal op het eiland Madeira, hij was van Joodse afkomst. Hij
verhuisde naar Lissabon in 1946 en studeerde in Coimbra, waar hij echter geen cursus
afmaakte. In 1958 publiceerde hij zijn eerste bundel, ‘O Amor em Visita’, toen
hij de kring van de modernisten in het Café Gelo aan de Rossio in Lissabon
frequenteerde, een kring waar ook namen als Luiz Pacheco, Mário Cesariny, João
Vieira, Hélder Macedo toe behoorden.
Herberto Helder Luís Bernardes de
Oliveira nasceu a 23 de Novembro de 1930 no Funchal, ilha da Madeira, no seio
de uma família de origem judaica. Em 1946 mudou-se para Lisboa e estudou em
Coimbra, não terminando nenhum dos cursos. Publicou o primeiro livro, O Amor em
Visita, em 1958, numa altura em que frequentava o círculo modernista do Café
Gelo, ao Rossio, em Lisboa, do qual também faziam parte nomes como Luiz
Pacheco, Mário Cesariny, João Vieira, Hélder Macedo, entre outros.
Hij woonde nadien in Frankrijk, Nederland en België, waar hij
marginale jobs uitvoerde. In Antwerpen leefde hij zelfs in de clandestiniteit
en werkte er als gids voor de zeelui in het prostitutie milieu. In 1968, toen
hij als redacteur werkte voor het internationale nieuwsagentschap van de
nationale zender in Lissabon, werd hij ontslagen omwille van zijn medewerking
aan de publicatie van een boek van Markies De Sade. Hij werkte in Afrika en
trok naar de Verenigde Staten, waar hij in 1973 ‘Poesia Toda’ uitgaf, een
verzameling van zijn werk tot dan toe. Hij kwam pas naar Portugal terug in
1975, na de anjerrevolutie.
Viveu em França, na Holanda e na
Bélgica, onde exerceu profissões pobres e marginais. Em Antuérpia, chegou mesmo
a viver na clandestinidade, trabalhando como guia de marinheiros no mundo da
prostituição. Em 1968, enquanto trabalhava como redator do noticiário
internacional da Emissora Nacional, em Lisboa, foi despedido por se ter
envolvido na publicação de um livro de Marquês de Sade. Trabalhou na África e seguiu
para os Estados Unidos da América onde, em 1973, publicou Poesia Toda, que
reunia toda a sua produção poética até então. A Portugal só voltou em 1975, depois
do 25 de abril.
Hij was een gereserveerd en discreet figuur, die zelden in
het openbaar verscheen. De laatste 30 jaar gaf hij ook geen interviews meer. In
1994 weigerde Herberto Helder de Pessoa-prijs, hij weigerde alle literaire
media-aandacht.
Over hem zei de criticus Pedro Mexia: “Hij was even belangrijk voor het tweede deel van de 20ste eeuw als
Fernando Pessoa dat was voor het eerste deel”.
Era também uma figura reservada e
discreta, raramente aparecendo em público. Não dava entrevistas há mais de 30
anos. Em 1994, Herberto Helder recusou o Prémio Pessoa, rejeitando quase sempre
o mediatismo literário.
O crítico Pedro Mexia considerou que:
“O seu lugar na literatura portuguesa da
segunda metade do século 20 equivalerá ao de Fernando Pessoa na primeira
metade.”
Zijn laatste boek ‘A morte sem mestre’ verscheen in mei 2014,
een beperkte oplage, zoals trouwens het merendeel van zijn laatste publicaties.
Er hoorde een CD bij waarop de auteur zelf vijf gedichten declameerde.
O último livro do poeta foi ‘A morte
sem mestre’, publicado em maio de 2014, numa edição limitada, à semelhança das
últimas publicações que fizera. Esse vinha acompanhado de um CD em que
declamava cinco dos poemas
que um nó de
sangue na garganta
que um nó de
sangue na garganta,
um nó de ar no
coração,
que a mão
fechada sobre uma pouca de água,
e eu não possa
dizer nada,
e o resto seja
só perder de vista a vastidão da terra,
sem mais saber
de sítio e hora,
e baixo passar
a brisa
pelo cabelo e
a camisa e a boca toda tapada ao mundo,
por cada vez
mais frios
o dia, a
noite, o inferno, o inverno,
sem números
para contar os dedos muito abertos
cortados das
pontas dos braços,
sem sangue à
vista:
só uma onda,
só uma espuma entre pés e cabeça,
para sequer um
jogo ou uma razão,
oh bela morte
num dia seguro em qualquer parte
de gente em
volta atenta à espera de nada,
um nó de
sangue na garganta,
um nó apenas
duro
|
a última bilha
de gás durou dois meses e três dias
a última bilha
de gás durou dois meses e três dias,
com o gás dos
últimos dias podia ter-me suicidado,
mas eis que se
foram os três dias e estou aqui
e só tenho a
dizer que não sei como arranjar dinheiro para outra bilha,
se vendessem o
gás a retalho comprava apenas o gás da morte,
e mesmo assim
tinha de comprá-lo fiado,
não sei o que
vai ser da minha vida,
tão cara, Deus
meu, que está a morte,
porque já me
não fiam nada onde comprava tudo,
mesmo coisas
rápidas,
se eu fosse
judeu e se com um pouco de jeito isto por aqui acabasse nazi,
já seria mais
fácil,
como diria o
outro: a minha vida longa por muito pouco,
uma bilha de
gás,
a minha vida
quotidiana e a eternidade que já ouvi dizer que a habita e move,
não me queixo
de nada no mundo senão do preço das bilhas de gás,
ou então de já
mas não venderem fiado
e a pagar um
dia a conta toda por junto:
corpo e alma e
bilhas de gás na eternidade
- e dizem-me
que há tanto gás por esse mundo fora,
países
inteiros cheios de gás por baixo!
(A Morte sem Mestre; ed. Porto Editora, 2014) |
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